Especialista explica o que está em jogo com a criação do Pix e quais os riscos de o dinheiro físico acabar.
Uma nova forma de transferir valores chegará ao Brasil em novembro. O lançamento do Pix, sistema instantâneo que realiza pagamentos em menos de 10 segundos, a qualquer momento – inclusive depois das 17h e aos fins de semana –, despertou um novo olhar sobre as fintechs e mostrou o quanto os bancos se tornaram antiquados para boa parte da população.
É preciso entender o que nos levou à situação atual. Não é de hoje que instituições financeiras e bancos digitais caíram no gosto dos brasileiros, especialmente dos mais jovens, pela ausência de anuidade de cartões, facilidade de pagamentos online e soluções personalizadas.
Ao perceber a necessidade de criar uma experiência do cliente, como ser atendido rapidamente e sentir uma verdadeira conexão com a marca, essas instituições levaram vantagem no mercado.
Com o Pix, o Banco Central deu um passo em direção ao futuro e às tendências que já se provavam impossíveis de recuar.
Quero dizer, uma vez que os consumidores perceberam o quanto um banco poderia fazer por eles, em termos de praticidade, agilidade e bom atendimento, a régua subiu e quem não se enquadrava nesse novo padrão se tornava automaticamente ultrapassado.
Adaptações
Muitos se questionam se avanços tecnológicos como o Pix reduzirão alguns serviços dos bancos tradicionais.
É fato que há um novo elemento para competir com DOC, TED, boletos, cartões de crédito e débito – basicamente, todas as formas de pagamento pelas quais um banco obtém lucro.
Segundo o Banco Central, o custo do Pix deverá recair sobre quem recebe o dinheiro e não sobre quem transfere, e repassar o valor aos usuários também já foi vetado pelo BC.
Isso sem falar no aumento de gastos com segurança, uma vez que o Pix funcionará 24 horas por dia, sete dias por semana.
A Associação Brasileira de Internet já manifestou sua preocupação com a proteção contra fraudes e invasões no sistema e apontou que esse investimento certamente elevará o custo com pessoal e tecnologia.
O prazo de implementação do sistema também é alvo de críticas por algumas empresas. Elas alegam que serão necessárias adaptações significativas, especialmente em relação à segurança do usuário, tornando inviável o lançamento do Pix em 16 de novembro. Assim, elas propõem a prorrogação do calendário para agosto de 2021.
Entre apoiadores e críticos, acredito que a medida vem para reduzir a burocracia e trazer mais agilidade ao sistema financeiro brasileiro. A questão é entender o cenário de mudança e buscar atender às expectativas dos clientes.
É como se muitos bancos estivessem tentando parar uma onda: uma vez formada, é fato que ela irá arrebentar – você pode surfar ou ser arrastado por ela.
Dinheiro físico
Hoje, estima-se que existam no Brasil 60 milhões de pessoas sem acesso a nenhum serviço bancário, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). São adultos que movimentam capital na economia, mas não têm conta-corrente, poupança ou qualquer tipo de cartão.
Além disso, é preciso levar em consideração que nem toda a população quer um banco digital ou formas de pagamento digitais. Uma parcela significativa ainda sai de casa para pagar contas, fazer transferências e prefere o dinheiro físico a deixar tudo na conta.
Isso é algo que os bancos não podem deixar para trás – afinal, essas pessoas também precisam de soluções personalizadas e um ótimo atendimento.
Entender as demandas dos diferentes perfis de clientes e se adaptar aos novos tempos é o desafio que se apresenta para os bancos tradicionais.
Fonte: Dane Avanzi – Empresário, advogado e diretor do Grupo Avanzi.
Fonte: Portal Contábeis