Pouco tributado, setor de serviços deve pagar mais imposto com proposta do governo

Apesar do aumento de tributo, economistas consideram a proposta uma sinalização de que o país pode começar simplificar o sistema de pagamento de impostos.

Pouco tributado, setor de serviços deve pagar mais imposto com proposta do governo

Pouco tributado, setor de serviços deve pagar mais imposto com proposta do governo.
proposta de unificação do PIS e do Cofins vai acarretar em um aumento de tributação para o setor de serviços – o mais importante da economia –, mas foi considerada positiva por economistas consultados pelo G1 porque é uma primeira sinalização de simplificação tributária que parte do governo federal.

A proposta entregue nesta terça-feira (21) ao Congresso unifica a cobrança do PIS e do Cofins (incidente sobre a receita, folha de salários e importação) dando lugar a um único imposto federal, chamado Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS).

Se aprovado projeto de lei, a alíquota do tributo será de 12% para as empresas e de 5,8% para instituições financeiras.

“Vai sobrecarregar o setor de serviços porque ele paga menos impostos que outros segmentos e você está criando um sistema sem exceções”, diz o ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria, Maílson da Nóbrega.

“Alíquotas diferenciadas geram distorções. Os melhores IVAs do mundo são os de alíquota única. É o que dá eficiência, reduz burocracia e torna o sistema mais claro”, afirma.



Como funciona o sistema hoje:

  • A Indústria está em um regime não cumulativo e, portanto, pode ir deduzindo o imposto pago ao longo da etapa de produção via crédito com o objetivo de pagar menos imposto nas etapas seguintes. A alíquota atual do setor é de 9,25%.
  • O setor de serviços está num regime cumulativo e, portanto, não pode deduzir imposto ao longo da etapa de produção. A alíquota atual do setor é de 3,65%.

O que quer o governo:

  • Uniformiza a alíquota de 12% para indústria e serviços e permite que todos o setores façam as deduções via crédito ao longo de toda a cadeia de produção.

O entrave para o setor de serviços se dá porque não há etapas de produção, pois está na ponta final da atividade econômica. Não há benefício, portanto, de poder deduzir tributo via crédito.

“Com a proposta, tudo que você compra será passível de ganhar o crédito, por isso a alíquota tem de ser mais alta. Essa calibragem foi estudada pela Receita Federal”, afirma o diretor do ASA Bank e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall.

“O setor de serviços tem menos insumo para se creditar. Com uma mesma alíquota para os dois, a carga efetiva ficar maior (para o setor de serviços)”, diz o pesquisador do Núcleo de Tributação do Insper e procurador da Fazenda Nacional, Leonardo de Andrade Rezende Alvim.

Embora a medida aumente a carga de tributos sobre o setor de serviços, os economistas avaliam que a proposta é positiva por ser um início de simplificação do sistema tributário brasileiro.

“O movimento de hoje, de como vai ser a proposta final de reforma tributária, diz pouco. Mas eu não subestimo o movimento simbólico de ver as duas Casas sentadas (Câmara e Senado) e o Ministério da Economia alinhados para discutir a reforma”, afirma o economista-chefe da BlueLine Asset Management, Fabio Akira.

Entre os investidores, restam dúvidas sobre a capacidade política do governo de levar adiante uma agenda reformista para o país em um momento de crise econômica e seguido à aprovação da reforma da Previdência no ano passado.

“O envio de uma reforma tributária nesse momento desafiador é um sinal de que houve um avanço, mesmo com várias incertezas políticas”, diz a economista-chefe da Claritas, Marcela Rocha.

A unificação de PIS e Cofins é apenas o primeiro passo melhorar o sistema tributário do país. Desde o ano passado, o governo tem prometido o envio de uma reforma tributária robusta, mas a equipe econômica preferiu fatiar as medidas para aumentar as chances de aprovação.

O governo optou por enviar a proposta simplificada por projeto de lei, deixando de lado o ICMS, pago aos Estados, e o ISS, pago aos municípios. Estão neles as principais distorções tributárias para o imposto sobre consumo.

“O IVA dual não prejudica, mas perde muito das vantagens de um IVA único, que englobe ICMS e ISS”, diz Maílson da Nóbrega. “O PIS e Cofins viraram uma colcha de retalhos com vários regimes especiais. É por isso que setores sub tributados vão pagar mais.”

Para alterar regimes de Estados e municípios, é necessário aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que depende do aval de 308 deputados. Projetos de lei dependem apenas de 50% mais um voto das Casas Legislativas.

“Depois de um ano e meio esperava-se mais da reforma tributária do governo. Parece, às vezes, que o governo não acredita que a reforma passara pelas dificuldades naturais de uma reforma mais ambiciosa”, afirma o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale.

Fonte: Portal G1